quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Salgadeiras e Chancas


As Salgadeiras e as Chancas são pequenas lagoas de origem glaciar, totalmente naturais, controladas por um grande número de depressões e fracturas visíveis nas rochas, provocadas, fundamentalmente, pelo movimento persistente e ritmado da massa de gelo, que arrancou, poliu e estriou extensas superfícies graníticas.

É provavelmente a mais famosa sequência de lagoas da Serra da Estrela, pois devido à proximidade da estrada, à facilidade de acesso pedonal e à correspondente beleza natural, é um dos locais predilectos para matar o calor que nos “invade” o corpo durante o Verão. Face a este cenário, todos nós devemos ter o melhor respeito para com este local, tentando através de atitudes cívicas e recorrendo às capacidades intelectuais (que nos distinguem do restantes seres vivos), guardar e preservar um ecossistema que é tão sensível, como raro.

Fotografias enviadas por Rui Peixeiro.






Obrigado João...


Ontem foi um dia especial para mim. Conheci pessoalmente um dos grandes "conquistadores" portugueses.
Tive inclusive a oportunidade e a sorte de conversar com o João Garcia durante 15 minutos (quase parecia que estávamos numa esplanada numa noite de Verão).
Quer a nível pessoal, quer a nível profissional, foi um dos momentos mais marcantes da minha vida, pois senti que a tenacidade e a força de vontade demonstrada pelo João Garcia; a forma construtiva e humilde como abordou os seus feitos; a racionalidade que demonstrou quando "opinou" sobre as grandes adversidades por que passou (e os erros que cometeu), são sinónimo de alguém que fez de tudo para atingir o seu objectivo principal: "não desistir do que realmente ambicionamos..."

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Lagoa do Covão do Meio (artificial) em 03/03/2007

A lagoa do Covão do Meio foi construída no 2.º covão glaciar (a contar de cima) do vale glaciar de Loriga. A título de curiosidade, este vale glaciar é, de todos os vales glaciares da Serra da Estrela, aquele que possui maior número de covões glaciares ("ombilic", como termo técnico) bem definidos e perceptíveis. Ao todo são 4:



O glaciar terá atingido, no máximo da glaciação, uma extensão aproximada de 7 km e atingiu uma altitude mínima de 800 metros. A erosão provocada pelo glaciar é demais evidente, não só pela existência de um número elevado de covões, mas também pela existência de superfícies rochosas lisas, aborregadas e polida, provocadas pelo efeito "abrasão" da massa de gelo. Estas características geológicas são perfeitamente visíveis na cabeceira do Covão do Meio, bem como a existência de estrias (microformas) nas superfícies rochosas, resultantes da fricção entre a superfície rochosa e os fragmentos que eram transportados/arrastados pela língua glaciar.

A lagoa do Covão do Meio foi entrou em funcionamento em 1953. É uma lagoa artificial do tipo “arco de abóbada” que possui um dique de 25 metros de altura (ponto máximo) e uma extensão de 287 metros. Como característica mais evidente desta lagoa, é a existência de um túnel de aproximadamente 2355 metros de extensão, que canaliza a água para a Lagoa Comprida.





sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Habitantes (1): Rã Ibérica (Rana iberica)


Não só de água "vivem" as lagoas da Serra da Estrela. O seu esplendor remanesce também dos seres vivos que as habitam. Por isso, considero que estes também merecem um pouco da nossa atenção e interesse.

Na Serra da Estrela ocorrem 12 espécies de anfíbios, qualquer coisa como 70% de todos os anfíbios de Portugal Continental. Logo, não podemos descurar esta classe vital para o equilíbrio ecológico que encontramos nos "micro" ecossistemas únicos e raros das lagoas (principalmente das naturais) existentes na Estrela.

Um dos habitantes visível e inconfundível é a Rã Ibérica (Rana iberica), uma espécie endémica do noroeste da Península Ibérica e que, na Serra da Estrela, pode ser encontrada até aos 1800-1900 metros, mais precisamente junto a nascentes e a pequenos ribeiros, bem como em lagoas e pequenos charcos, sendo também possível de a encontrar em cervunais húmidos.

Se desejar conhecer melhor esta curiosa espécie anfíbia, por favor clique aqui...

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

terça-feira, 16 de outubro de 2007

A razão da existência do "Lagoas da Estrela"

As lagoas glaciares da Serra da Estrela são, sem dúvida, um dos ex-libris da Estrela e mesmo do nosso país, pois constituem habitats extremamente raros, aglomerando ecossistemas e taxionomias únicas em Portugal e, em determinados pontos, únicos em todo o Mundo.

As lagoas da Serra da Estrela sempre foram foco da imaginação humana, estando associadas a histórias inverosímeis, da qual a mais extraordinária aquela que afirma a existência de possíveis ligações ao mar.

Desde dos tempos clássicos que as lagoas da Serra da Estrela “enfeitiçam” as nossas mentes, quer pela natureza das suas águas, passando pelas suas “indeterminadas profundidades”, quer pelas temperaturas frias e arregaladas das suas águas, tal como refere Duarte Nunes de Leão, na Descripção Corographica do Reino de Portugal, datada de 1610:

“hua grande lagôa de agora estanque que tem circuito muitos passos, de tal natureza, que quando ha tempestade no mar, agoa della se move, & embravesse como o mesmo mar, stãdo aquella alagoa afastada delle alguas legoas…”

Ou mais recentemente:

“Peixe mergulhado n’esta água, por espaço de vinte e quatro horas, só apparece a espinha.”


As lagoas da Serra da Estrela têm origem glaciar (são um testemunho “vivo” da acção glaciar), ou seja, originaram-se devido à ”extracção” das lajes e blocos de rocha, criando depressões onde se acumula a água proveniente da precipitação, de pequenos cursos de água de montanha e do degelo durante a Primavera. As depressões foram esculpidas pela acção (avanço e recuo) das massas de gelo que constituíam as várias línguas glaciares que “habitavam” permanentemente a Serra da Estrela acima dos 1500-1600 metros de altitude.

Em muitas destas lagoas foram construídos pequenos diques, para aumentar a capacidade de “carga” das mesmas, de modo a terem aproveitamento hídrico e eléctrico (algumas foram criadas artificialmente). Apesar destas intervenções humanas, as lagoas da Estrela mantém uma nostalgia e um brilhantismo natural ímpar, uma espécie de cereja no topo do bolo da maior serra de Portugal Continental.

Espero contar com todos os visitantes deste blog, quer nos seus comentários, quer através dos seus testemunhos fotográficos, na valorização e preservação de algo que é de enorme importância natural mas que, infelizmente, é esquecido por muitos…


Nuno Adriano