sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Habitantes (3) - Truta Arco-Íris (Oncorhynchus mykiss)

E continuando a nossa jornada pelos vários seres vivos, que fazem das lagoas da Serra da Estrela "o seu mundo"...

A truta arco-íris é uma espécie de truta
originária da América do Norte, mas que se encontra distribuída actualmente por todo o mundo. A espécie foi introduzida em pelo menos 45 países, para aquacultura, com um sucesso tremendo a nível económico, permitindo que quase todo o mundo tivesse acesso à sua carne.

As trutas arco-íris são peixes de água doce preferindo águas frias e claras com corrente moderada, sendo uma espécie apreciada para a pesca desportiva, principalmente em lagoas ou barragens de altitude.

Têm o corpo acastanhado ou amarelado, com pintas pretas na zona do dorso, também presentes nas barbatanas dorsal e caudal. Como característica distintiva têm uma risca rosada que se prolonga das guelras à barbatana caudal. A truta arco-íris pode atingir dimensões consideráveis (tendo em conta o seu habitat), podendo atingir entre 70 cm a 90 cm de comprimento e um peso a rondar os 10kg (embora existem dados de exemplares maiores e com mais peso).

Possui um hábito alimentar omnívoro, alimentando-se de minhocas, ovos de peixes, pequenos peixes, crustáceos e insectos.

É uma espécie tremendamente voraz, agressiva e lutadora, o que a torna um excelente chamariz para os amantes da pesca desportiva. Na Serra da Estrela, ela foi introduzida em algumas barragens (Vale do Rossim, Lagoacho, Lagoa Comprida, Lagoa do Viriato, entre outras) com esse fim.

Não sendo uma espécie autóctone, como a sua prima truta-fario (em cima) ou truta comum (Salmo trutta fario), ainda não está totalmente apurado o seu verdadeiro impacto, embora seja evidente a predação de espécies nativas, bem como a disseminação de furunculose e septicemia hemorrágica viral entre espécies nativas.

Uma das grandes "vantagens" das trutas arco-íris das lagoas da Serra da Estrela, é que são espécimes híbridos (?), ou seja, não se reproduzem (não existem certezas deste facto), já que derivam, na sua grande maioria, de viveiros existentes na região.

Em Portugal, a Serra da Estrela possui qualidades únicas para a pesca desportiva de montanha (a prova disso foi a recente realização, em 2006, do Campeonato do Mundo de Flyfishing, envolvendo mais de 4.000 pessoas), como produto desportivo e turístico.

Como amante da pesca desportiva de aventura "sem morte", a excelência das suas lagoas (naturais e artificiais) e rios, a paisagem, a gastronomia da nossa região, a aventura (para se alcançar os locais de pesca), seriam um cartaz turístico de inigualável qualidade. (Um tema a abordar posteriormente.)

É um mercado por explorar, sendo responsável, noutros países, por gerar milhões de euros. Em Espanha, depois do futebol e dos desportos de Inverno, o mercado da pesca/caça é aquele que gera mais receita, superiorizando-se , por exemplo, ao golf. O mesmo se passa na Patagónia, no Canadá, no Alasca, nos Estados Unidos, na Nova Zelândia, onde a pesca desportiva de aventura, (principalmente dos salmonídeos) tem um papel crucial, como destino turístico de "gama alta" e onde a sustentabilidade ambiental é “cabeça de cartaz”.

Para terminar, o exemplo de algumas amostras (http://www.conmosca.com/) construídas à mão, usadas para as "enganar" (uma autêntica arte, sem dúvida).



sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Sabia que...

Sempre tive curiosidade em saber como eram construídas ( e o material que utilizavam) as barragens da Serra da Estrela.

Foi algo que sempre me fascinou e que, provavelmente, passa ao lado de 99% (número de cabeça, tendo em conta a opinião de familiares e amigos que tive a oportunidade de questionar) do cidadão comum que visita a Serra da Estrela e que tem a oportunidade de usufruir dos seus "encantos aquáticos".

Com um pouco de dedicação a um tema tão pouco falado, de uma área de engenharia "oculta" e que contempla termos tão técnicos como desconhecidos, fiquei a saber que a grande maioria das barragens da Serra da Estrela, principalmente as mais antigas, são construídas em arcos de alvenaria. São exemplo a barragem do Covão do Ferro (em cima), a barragem do Vale do Rossim, a Lagoa Comprida, (entre outras) especialmente conhecida pelos 3 arcos de alvenaria em granito com um total de 1200 metros de extensão. Uma construção célebre (iniciada em 1912, finalizada em 1914 e com alterações introduzidas em 1934 e 1965) e de grande importância ao nível da engenharia, tendo em conta o período em que foi feita e às adversidades do próprio contexto.

Este método de construção é um dos métodos mais antigos de concepção de represas, sendo muito utilizado em Portugal até à proliferação e desenvolvimento do betão.

Embora as barragens de alvenaria fossem de fácil concepção, fiáveis e muito resistentes, tinham algo que acabou por ser a sua "morte" nos tempos modernos, onde o relógio controla a vida: a morosidade de construção.

O betão, mais moldável e menos dispendioso tem como "ponta de lança" o facto de ser menos moroso na sua utilização (logo mais rentável), pondo praticamente fim a um material e técnica de construção que desafiou a mente criativa e o físico do ser humano.

Vou continuar a procurar informação sobre estes temas, de modo a trazer à baila um pouco do desconhecido da nossa serra. Não é fácil, mas é isso que me cativa...

domingo, 18 de novembro de 2007

Lagoa da Francelha em 18/11/2007

Há dias assim. Tudo se conjuga...



Sob o "fumo" da condensação da água...

Ao som do gelo a "cantar" sobre o sol radiante...

Uma miragem...

Enfim...
”Somente a quem a passeia, a quem a namora duma paixão presente e esforçada, abre o coração e tesouros. Então numa generosidade milionária, mostra tudo”.
(Miguel Torga)


Porquê???

Alguém nos explica o que está a acontecer?

Não sou eu que profiro isoladamente esta frase. Turistas, operadores turísticos, gerentes de unidades de alojamento, amigos, colegas de profissão e sector e mesmo elementos do PNSE e da DRABI mostram-se perplexos e algo agastados com as recentes (desde do Verão deste ano) intervenções que a EDP realizou na maioria das lagoas com exploração eléctrica e naquelas que lhes dão suporte.

A razão para tal perplexidade é simples: esvaziaram-nas sem uma justificação aparente. Até mesmo órgãos estatais, como é o caso do PNSE, tutelado pelo ICNB, ou mesmo a DRABI, tutelada pelo Ministério da Agricultura, Floresta e Pescas não têm qualquer explicação para tal fenómeno.


Para além do forte impacto (negativo) visual que ostenta, não sabemos até que ponto estas intervenções penalizam fortemente as populações písciculas, anfíbias e florísticas, que dependem destas lagoas/barragens para sobreviver. Além disso, as indicações a nível meteorológico não são animadoras, prevendo-se um Inverno seco e frio, sendo este dado (apenas probabilístico) uma preocupação acrescida para todo cidadão comum que, tal como eu, se mostra sensível e preocupado com um somatório de situações (não é só esta que relato...) que têm vindo a ocorrer na Serra da Estrela sem qualquer justificação plausível, sem resolução aparente e definitiva e sem qualquer apuramento de responsabilidades.

Esperamos que chuvas previstas para o início desta semana possam, pelo menos, configurar uma mudança, nem que seja visual, funcionando como uma "espécie de anestesia" que, neste sentido, possa amenizar a nossa revolta...
Resta consular-nos, com a beleza rara e única de uma truta Arco-Íris (pelos vistos, resistente há falta de água), pescada (e devolvida à água) durante um torneio de pesca à mosca, realizado no dia 17/11/2007 no Vale do Rossim (1.ª foto do post), onde a revolta e indignação com tal barbaridade eram os sentimentos generalizados de todos os intervenientes....

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Habitantes (2) - Sparganium angustifolium

Uma espécie de planta aquática muito rara e ocorrendo, em Portugal, somente nas lagoas, charcos e zonas inundadas das partes mais altas da Serra da Estrela. É uma planta muito selectiva quanto ao seu habitat, enraizando somente em zonas pouco profundas, como por exemplo, nas margens das lagoas e charcos glaciários oligotróficos (com reduzidas concentrações de matéria orgânica).




Estas lagoas e/ou charcos glaciários comportam águas pobres em nutrientes, provenientes somente da precipitação e do degelo durante a Primavera, possuindo um grau de acidez ligeiro a moderado e onde a decomposição orgânica é extraordináriamente lenta, constituíndo assim, um ecossistema raro, muito específico e fortemente condicionado pelo contexto envolvente.

A acumulação de nutrientes, principalmente devido ao aumento da poluição (ex. descarga de esgotos a céu aberto, como temos oportunidade de constatar na zona da Torre; a deposição de grandes quantidades de sal e a disseminação de lixo por toda a zona do planalto estrelense), é uma autêntica "bomba biológica", que tende a por em risco este tipo de vegetação, que ao contrário do que acontece na Estrela, onde ainda é constatável a sua presença, esta já é rara e praticamente residual em muitas zonas da Europa.