terça-feira, 16 de outubro de 2007

A razão da existência do "Lagoas da Estrela"

As lagoas glaciares da Serra da Estrela são, sem dúvida, um dos ex-libris da Estrela e mesmo do nosso país, pois constituem habitats extremamente raros, aglomerando ecossistemas e taxionomias únicas em Portugal e, em determinados pontos, únicos em todo o Mundo.

As lagoas da Serra da Estrela sempre foram foco da imaginação humana, estando associadas a histórias inverosímeis, da qual a mais extraordinária aquela que afirma a existência de possíveis ligações ao mar.

Desde dos tempos clássicos que as lagoas da Serra da Estrela “enfeitiçam” as nossas mentes, quer pela natureza das suas águas, passando pelas suas “indeterminadas profundidades”, quer pelas temperaturas frias e arregaladas das suas águas, tal como refere Duarte Nunes de Leão, na Descripção Corographica do Reino de Portugal, datada de 1610:

“hua grande lagôa de agora estanque que tem circuito muitos passos, de tal natureza, que quando ha tempestade no mar, agoa della se move, & embravesse como o mesmo mar, stãdo aquella alagoa afastada delle alguas legoas…”

Ou mais recentemente:

“Peixe mergulhado n’esta água, por espaço de vinte e quatro horas, só apparece a espinha.”


As lagoas da Serra da Estrela têm origem glaciar (são um testemunho “vivo” da acção glaciar), ou seja, originaram-se devido à ”extracção” das lajes e blocos de rocha, criando depressões onde se acumula a água proveniente da precipitação, de pequenos cursos de água de montanha e do degelo durante a Primavera. As depressões foram esculpidas pela acção (avanço e recuo) das massas de gelo que constituíam as várias línguas glaciares que “habitavam” permanentemente a Serra da Estrela acima dos 1500-1600 metros de altitude.

Em muitas destas lagoas foram construídos pequenos diques, para aumentar a capacidade de “carga” das mesmas, de modo a terem aproveitamento hídrico e eléctrico (algumas foram criadas artificialmente). Apesar destas intervenções humanas, as lagoas da Estrela mantém uma nostalgia e um brilhantismo natural ímpar, uma espécie de cereja no topo do bolo da maior serra de Portugal Continental.

Espero contar com todos os visitantes deste blog, quer nos seus comentários, quer através dos seus testemunhos fotográficos, na valorização e preservação de algo que é de enorme importância natural mas que, infelizmente, é esquecido por muitos…


Nuno Adriano

2 comentários:

Rui Peixeiro disse...

Parabéns pela iniciativa.
Espero que continue...

Já agora, porque não acrescentar um pouco mais informação sobre as lagoas? Localização, ...

Falo por mim, que já tive o prazer de estar e/ou tomar banho na grande maioria das lagoas da nossa serra, mas que mesmo assim desconheço o nome de muitas por onde passei...
Com a localização e as fotos, seria mais fácil reconhece-las.


Força!

Rui Peixeiro disse...

Ahh, esqueci-me de dizer. Tenho algumas fotos da Lagoa Comprida, de duas das Salgadeira, da Lagoa do Canal e do Lago Viriato.

Se quiser alguma, diga-me para: peixeiro@gmail.com